A Identidade por detrás do Trauma
- Filipa
- 26 de jun.
- 2 min de leitura

Por Rita Sousa
O trauma tem o poder de interromper, distorcer e até silenciar a narrativa que uma pessoa constrói sobre si mesma. Quando vivemos uma experiência profundamente marcante – seja ela um evento isolado ou uma sucessão de eventos difíceis ou traumáticos– a nossa perceção de quem somos pode ser engolida pela dor, pela culpa ou pela sensação de perda de controlo. A identidade, que antes era construída com base em relações, experiências e sonhos, passa muitas vezes a ser moldada em torno de um modo de sobrevivência.
Mas existe sempre uma identidade por detrás do trauma. Um “eu” que existia antes da ferida, que resistiu durante o impacto, e que continua a existir – por vezes escondido, outras vezes fragmentado, mas nunca anulado. É essa parte da identidade que muitas vezes luta, mesmo em silêncio, para ser resgatada. O processo de cura é também o processo de voltar a encontrar esse “eu” – de o ouvir, cuidar e integrar a experiência traumática sem que ela dite, sozinha, o enredo da vida.
A identidade pós-trauma pode nunca ser igual à anterior. E isso não é necessariamente uma perda. Pode haver crescimento, reconstrução, expansão. Porque reconhecer a identidade por detrás do trauma é reconhecer que somos mais do que aquilo que nos aconteceu. Somos também o que decidimos fazer com o que nos aconteceu.
Esse trabalho de reconfiguração pode ser doloroso, mas é profundamente humano. E ao permitir-se sentir, lembrar e transformar, a pessoa deixa de ser apenas vítima de um acontecimento para voltar a ser autora da sua própria história.
E tu? Consegues escutar esse lugar dentro de ti que ainda não foi totalmente ferido? Há um nome que talvez tenhas esquecido, uma parte tua que espera por ti — não para voltar ao que eras, mas para revelares quem ainda podes ser.
A tua história não termina no trauma. Pode começar, verdadeiramente, no momento em que decides procurá-la.

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