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Abertos ao sentir: do sofrimento ao amor.


Contacto com o sofrimento diariamente e inclusivamente, vejo o meu trabalho não como uma ferramenta para o aliviar numa primeira instância (claro!), mas antes disso, para conversar com ele, olhar com olhos de ver e enfrentar o que nos dói, os nossos medos e angústias, convivendo com eles, o que nem sempre é fácil certamente. E ao longo da dança terapêutica, surgem emoções, angústias, pensamentos - emaranhados e confusos-, que florescem e organizam. Com tempo.


Mas antes de tudo isso, sinto que ao mesmo tempo que queremos sentir o amor e a alegria, nos fechamos para tudo o que nos dói, esquecendo que um lado não vive sem o outro . E vamos ficando cada vez mais vazios por dentro, não porque não sentimos, mas porque não o queremos fazer, porque isso envolveria sentirmos tudo. Negamos (ou queremos a todo o custo) o sofrimento que nos envolve, como "olhos que não vêem, coração que não sente", e acreditamos (erradamente) que se o ignorarmos ele fica tão pequenino que acaba por desaparecer, porque afinal, o tempo não cura tudo?


Temo que não...


Vejo como o sofrimento nos destrói, corrói por dentro e nos faz sentir encurralados, desamparados, sozinhos. Muitas vezes. Mas também vejo, como ao mesmo tempo, nos coloca uma folha em branco para começarmos de novo. Vejo como vermos um sentido para o mesmo, nos motiva e ganhamos força que outrora pensávamos não existir e como conversar com ele, ao invés de o esconder o destapa, e como os monstros invisíveis escondidos no armário, vamos ganhando confiança para o abrir, todas as noites. E algo que parecia um monstro assustador, cheio de emoções dentro dele que gritam para se fazerem ouvir, fica cada vez mais pequenino e pequenino, até ficar à altura dos nossos olhos, para que possamos olhar, frente-a-frente e perguntar o que nos quer dizer.


Já Espinoza referia que: "A emoção que constitui o sofrimento, deixa de ser sofrimento logo que formamos uma ideia clara e distinta a seu respeito". Sofrer, sofremos todos e esta é uma das grandes certezas que temos na vida. Não há alegria sem tristeza, nem raiva sem amor. Uns escolhem vivê-lo em silêncio, sozinhos, construindo uma capa para aparentar ser mais fácil. E outros, conversam com o que sentem, olham com olhos de ver e aos poucos, tudo se dissolve e organiza porque deixamos de ter medo. Medo de sentir.


Vejo como o sofrimento é tão natural e essencial como o amor... porque não senti-lo também?




*Todos as obras têm direitos de autor: Filipa Malo Franco

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