
Pergunto-me várias vezes, porque é que parece muito difícil encaixar um meio-termo, um assim-assim, algo que é extraordinário e angustiante ao mesmo tempo. Como se a facilidade e tranquilidade não existissem sem sofrimento (ou vice-versa).
Talvez por estas razões, nos seja tão difícil falar do bom e do mau ao mesmo tempo; e no que toca ao pós-parto e à parentalidade, sinto que alternamos entre o floreado e o difícil. Como se por ser fácil, então é floreado. E se é difícil e estamos exaustas, então estamos a ser reais. Contrariamente ao objetivo, deduzo eu, tornou-se mais fácil falar dos sufocos e desafios do que dos suspiros ou momentos relaxados e felizes. Repetimos em eco sobre o cansaço e exaustão e a culpa das mães apanha-nos em todos os sentidos -quando estamos cansadas, ou nem por isso-, porque parece que estamos sempre em falta.
Também eu sou muitas vezes enrolada nela. E quando me questionam sobre o pós-parto, falo…a medo. Porque parece que mãe que é mãe tem de estar exausta, como um sobrenome: a mãe feliz, mas cansada. E em desabafos de mães, todas sabemos isso. Mas em jeito de segredo, e cheio de reticências, partilho que o pós-parto tem sido um momento bem mais fácil do que imaginei. Mesmo com todas as noites mal dormidas, dúvidas, ansiedades e receios.
Quase 10 meses do melhor do mundo. De mais suspiros de alívio do que pedidos de socorro. De muitos sorrisos e gargalhadas. De mais dores de barriga de tanto rir, do que todas as outras que também fazem parte. De mais momentos tranquilos do que as aflições normais de mãe. De um amor indiscritível. De muitas celebrações e pequenas conquistas. De olhares apaixonados. De mãozinhas entrelaçadas. De colinhos ensonados. De silêncios que confortam e de tempo para o amor. Sem tempo, nem horários.
Para as recém-mamãs e grávidas que ouvem uma e outra vez: “o pior está para vir”, como se tirassem o direito a queixa, a verdade, é que pode não ser assim. Comigo não foi.
Não é por ser fácil que nos tira o mérito. Não é por ser tranquilo que não é intenso. Acima de tudo, temos de dar menos importância aos palpites e testemunhos que nos rodeiam e olharmos mais para o nosso coração.