Por: Filipa Maló Franco
Somos de relações. Não acredito que a felicidade e crescimento se consiga fora destas, apesar de toda a ideia de que a felicidade apenas depende de nós, individualmente e sozinhos. Depende, em certa medida. Apesar de compreender que esta omnipotência nos empodera (falsamente!), o crescimento e a transformação são processos relacionais e o ser-humano inequivocamente um ser social.
Inclusivamente, não é sem sentido que a vinculação segura (ou a falta dela) é um marco essencial na vida humana e a relação com a mãe/cuidador um ponto de partida. Winnicott considerava até que não era possível compreender o bebé e a mãe separadamente, marcados por uma relação simbiótica, que mais tarde, teria de se desenvolver para uma relação mais independente e autónoma. Progressivamente. Seguido da descoberta de si e do "objecto", também na relação com o outro e principalmente na sua diferença. E a sensação e segurança de que o amor e a intimidade não existem só nas semelhanças mas principalmente, que têm lugar no seio desta diferença percebida que não os anula, mas contrariamente, fortalece.
Porém, temo que se tenha a ideia de que a diferença traz desamor, incompreensão e solidão - talvez pela falta de compreensão construída-, e que com isso, não sejamos tão verdadeiros com o que somos, como certamente deveríamos! E que aos poucos nos moldemos ao outro, forçosamente, como se de plasticina falássemos, mas que ao invés de percebermos o outro e nos sintonizarmos com o mesmo, mudemos de cor; para sermos iguais. E vamos ficando pequeninos e anulados perto deles, que por umas e outras razões se impõem, sem receio de perder o amor do outro, pela diferença...como deveria ser. Sempre.
E o que me preocupa é que por vezes, essa "pequenez" se esconde por trás de alguém "zen", que "não arranja confusão", que quando num "acto de rebeldia" se revolta (e bem!), não é aceite e novamente o fantasma se erga e compactua com a ideia irreal de que o amor se obtém na semelhança, não porque é verdade, mas porque a relação não foi construída na diferença; e assim sendo, tão pouco tem de relação, que é, por definição: "um vínculo entre pessoas".
E como pessoas... assumimos claro, a sua individualidade e por outras palavras, a sua diferença. E vamos lá... contrariamente à famosa música de Rui Veloso, quem ama não tem de ouvir a mesma canção, porque no real amor, vivemos e crescemos... na diferença.
*Todos as obras têm direitos de autor: Filipa Malo Franco
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