Por: Filipa Maló Franco
Se o instinto pode ser digno de confiança (porque nem sempre o é), esta é a altura para o escutar. É curioso como, quanto mais estamos dispostos a ouvir os pais, principalmente os de primeira viagem -porque os outros já não esperam fazer tudo bem-, nos apercebemos da insatisfação e culpa que paira no ar. Um instinto que ecoa “assiste” e uma sociedade que grita “autonomiza”.
Preocupa-me por tantas razões que, como escritora por impulso que sou, me impede de abandonar o tema.
Estamos muito enganados sobre a forma como se constrói a autoestima em bebés. Sublinhemos os bebés, que é deles que falo (crianças é diferente e já se colocam outras questões e necessidades!). E também estamos muito enganados sobre autonomia e confiança, que contrariamente aos adultos e crianças crescidas, não se desenvolve reforçando a mesma, mas sim, partindo do egocentrismo do bebé, do “posso, quero e mando”, da resposta previsível, do afeto e contacto físico.
O bebé quer ser o centro do universo da sua mãe, pai e/ou cuidador. O bebé quer ser acolhido quando chora. O bebé que estar junto da sua figura de vinculação. O mais junto possível. Quer maminha, colo, embalo para adormecer. Quer que olhem para ele… E seduz e faz gracinhas para que não o deixem de fazer. E tudo no bebé funciona -desde as pupilas dilatadas, ao choro que estremece quem está ao redor, à oxitocina libertada no corpo da mãe através do toque, da amamentação, do olhar- para que quem cuida, não deseje estar longe.
E esta experiência egocêntrica do bebé é de extrema importância. E é o palco por excelência da dança afetiva entre a mãe*/bebé. Uma dança que se aprende em tempo real, com os seus percalços e momentos de uma sintonia bonita, que encanta. Uma dança que tem de ser real, autêntica e, por isso, imperfeita.
E assim digo: um bebé “mimado” é um bebé que está a construir a sua autonomia de forma saudável. Um bebé com todas as suas vontades satisfeitas, sente-se mais capaz, com mais confiança e autoestima. O instinto dos pais exige que assim seja.
Vamos escutar a pauta do nosso bebé. E não nos distrair com ritmos alheios.
*ou figura de vinculação principal
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