Por: Filipa Maló Franco
O silêncio pode ser muitas coisas. Tantas coisas, na verdade. E não é fácil, muitas vezes, lidarmos com ele. Pode ser o não dito, porque não o queremos dizer. Porque magoa, a nós e/ou aos outros. Ou porque queremos esquecer (ou pelo menos tentamos, frequentemente, sem sucesso). Mas também pode ser o dito, com o olhar, porque é suficiente. Ou porque a comunicação não se faz só através da palavra, mas connosco por inteiros.
Silêncio é a ausência de som por definição, mas, certamente, não é a ausência de significado, de sentido e, principalmente, de emoção. Dizem (e eu concordo) que uma relação é íntima quando o silêncio passa a ser também um conforto dentro dela. Sem necessitarmos de montar um circo cheio de palavras e movimento para entreter o outro, e a nós mesmos, claro. Para interagir. Porque a relação é tão mais verdadeira quando não precisamos de nada disso. E cabe no silêncio toda a intimidade que une duas pessoas, que comunicam entre olhares e nas entrelinhas, e mais profundamente, com o coração. E se entendem e respeitam que o espaço pode estar preenchido, mesmo sem som.
Mas não podemos ignorar que o silêncio pode também ser a ausência e o vazio. O desistir de ler o outro e principalmente de o sentir. O desistir, porque já se tentou demais ou porque não se sente. Ou ainda, porque falta compreensão, partilha, intimidade e amor.
O silêncio pode ser muitas coisas. E às vezes pergunto-me se, por vezes, nos devíamos silenciar mais, mas nas coisas certas, como na relação de amor, que não precisa de um aparato para se fazer sentir; ou connosco mesmos. E pergunto-me se não usamos o som como escape, porque chegar a casa no silêncio é assustador muitas vezes. Porque ora ficamos entregues ao vazio que existe dentro de nós; ora aos pensamentos que teimam em gritar, porque não se sentem ouvidos; ou a ambos. Então temos muitos inimigos do silêncio - como a televisão, redes sociais e outros-, que o combatem tão eficazmente que distraem a nossa mente de tudo, ficando um nada, que, falsamente (sublinhemos), nos preenche. E pergunto-me, se não nos silenciamos demais, com as nossas emoções e sentimentos, que não tendo para onde ir, e caladas pelo silêncio, ficam dentro de nós. Emaranhadas e confusas. Que gritam e esperneiam. E o vazio instala-se, porque desistimos de as escutar. Que é preenchido, falsamente (e sublinhemos novamente), pelo som e estímulo, porque o silêncio deixa de se conseguir suportar.
O silêncio pode ser muitas coisas, e faz-nos sentir muitas outras. Questionamos qual o seu significado, quando esperamos um som ou uma palavra que não chega. Usamo-lo como conforto, ou como escape. É íntimo, como fazer amor; ou desamparo. É assustador muitas vezes, porque nos coloca em contato com o que temos de mais puro mas também é suporte e conexão.
O silêncio pode ser muitas coisas. Tantas.
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