Por: Sofia Lebres
Estava em consulta, quando uma paciente disse: "sinto-me a andar no automático". Enquanto juntava tudo o que sabia sobre ela, dentro de mim, perguntei-lhe o que é que isso significava, ao mesmo tempo que me senti a congelar, numa espécie de vazio, que acabei por lhe devolver, para que, juntas, o pudéssemos pensar.
No fundo, estávamos as duas a falar do mesmo. Ela sentia-se a andar no automático, porque, distanciando-se das suas emoções, acabava, muitas vezes, adormecida, num bloqueio intransponível, que a descaracterizava, numa vida sem cor ou forma, mesmo tendo, dentro de si, todas as cores do mundo.
Pensámos sobre como tantas vezes parecemos não ser donos nem personagens principais da nossa própria vida. Porque para a viver, com verdade, temos de estar com o corpo todo, assumindo pensamentos, sensações e emoções.
Perguntam-se, agora, vocês: "Como é que pessoas tão bonitas e ricas interiormente, podem deparar-se com esta espécie de anestesia?". Talvez, porque nos habituámos a categorizar emoções em "boas" ou "más" e, sempre que sentimos que estamos a cair nestas últimas, protegemo-nos.
Porque, por vezes, caímos no erro de imaginar que não sentir nada, é melhor do que sentir toda a dor que também cabe dentro de nós - toda a zanga, mágoa e desilusões.
Temos medo de abrir as portas a estas emoções, porque tememos que elas passem a dominar a nossa vida, tal as suas extensão e intensidade, e perdemos de vista que quanto mais as nomearmos, mais lhes damos a liberdade para que elas voem para fora de nós, guardando espaço para uma vida mais genuína.
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