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3 mitos sobre a traição

Por: Sofia Lebres





Ser traíd@ é das experiências mais dolorosas que podemos viver, numa relação amorosa (ou em qualquer relação, na verdade!).


Sentimos que toda a confiança que depositámos no outro foi em vão. Sentimos que fomos parvos por alguma vez termos acreditado nele(a) ou, no limite, no Amor. Sentimos que tudo o que sonhámos para aquela relação, leva agora uma pesada e dolorosa sentença de morte. Sentimos que tudo o que vivemos, até então, só pode ter sido uma mentira. Porque, de que outra forma, seria a pessoa a nosso lado capaz de nos colocar nesta situação?


Por tudo isto, hoje gostava de vos falar de 3 mitos sobre a traição!


1. "Quem trai, não ama!"


Bem, imagino que já estejam a ficar enervados comigo. Sei que este primeiro mito pode ser controverso. Vamos, então, por partes!


Quando alguém trai, está sempre a comunicar algo ao casal e ao outro, ainda que o possa fazer inconscientemente. Sendo assim, se o casal estiver disponível para fazer este caminho, importa perceber o que poderá ter originado aquela traição. E, neste processo, é essencial que quem traiu se abra, com total verdade, para contrariar os lugares de desconfiança e opacidade que a traição cria, num primeiro momento.


É verdade que, por vezes, a traição é o sintoma de uma relação esmorecida, onde os sentimentos podem ter-se modificado. Mas também é verdade que é em relação que agimos os nossos maiores medos e inseguranças, que, por vezes, podem levar a uma sabotagem inconsciente da relação.


Com isto não quero, de todo, que pensem que estou a tentar normalizar um comportamento que magoa o outro, nem tão pouco justificá-lo. Mas sei que, na sociedade do amor próprio, em que parecemos ter de ser super-heróis, fortes, ou como quem diz desprovidos de emoções, por vezes, condenamos quem escolhe perdoar uma traição, com o preconceito de que "quem trai uma vez, trai para sempre" e de que "só cai no mesmo erro, duas vezes, quem é tolo". E, com este preconceito, intensificamos os sentimentos de culpa e vergonha que esta pessoa já possa estar a sentir, quando, no lugar das emoções, não há certos, nem errados. Há sentires e escolhas!


2. "Depois de uma traição, a confiança perde-se para sempre!"


A confiança que depositamos num outro é algo frágil e é verdade que o amor entre adultos não é incondicional. Mas, em conversa com o meu supervisor, ele dizia-me: "confiar, é algo que se dá, é uma fé ("fiar") que temos no outro". Eu acrescento que acaba por ser uma escolha.


Mais uma vez, tenham paciência comigo! Eu sei que este é um assunto bicudo e que, se calhar, estão a ficar agitados. É a ambivalência do tema, a ressoar dentro de nós. Estão a ver por que é que não há certos nem errados?


Vamos continuar! Também é verdade que a confiança se (re)conquista. Com muita paciência, com a reposição de (Toda) a verdade. Com muitos comportamentos que comprovam que, quem traiu, está arrependido e que quer estar na vida do outro. E reparar o que se quebrou.


Ah, mas, aqui, não valem batotas! A relação não será igual ao que era antes, não é possível que seja. Vai ser redesenhada, o que não significa que não possa, até, ficar mais bonita. Por tudo isto, não vale dizer: "Se escolheste perdoar, não podemos estar sempre a voltar ao mesmo assunto, às mesmas conversas!". Podem. E, muito provavelmente, precisam e não podemos exigir à pessoa que está magoada que ela aja como se estivesse tudo bem.


Eu sei! Às vezes, fazemo-lo em nome da vergonha que sentimos, pela dor que foi causada. Mas também é na fragilidade de quem traiu, que o outro pode reencontrar o caminho para a restituição da relação.


3. "Há coisas que é preferível não se saberem!"


"O que é que ele(a) tinha que eu não tenho?".

"Será que o sexo foi bom?".

"Foi melhor do que comigo?".

"Quantas vezes aconteceu?".

"Foi só físico?".

"Será que há ali amor?".


E mais um rol de questões, que nos fazem criar cenários que, pelo grafismo, nos atormentam.


Não sei se já repararam, mas fui frisando, ao longo desta nossa conversa, a importância de contar a verdade, depois de uma traição, sobre essa mesma traição. Ao ritmo do casal e da pessoa que foi magoada.


Imagino que se estejam a perguntar: "Não há verdades que, de tão dolorosas que são, possam destruir o que resta da relação? Não será melhor manter algumas informações escondidas?". Mais, "queremos, mesmo, saber as respostas, para essas mesmas questões?".


Mais uma vez, para estas questões não há verdades absolutas. Não obstante, o rol de perguntas que apresentei, no início deste 3º mito, muitas vezes, existem dentro de quem foi traído. Elas assombram, mesmo quando não são colocadas. Com uma agravante! Se não sabemos a resposta, podemos fantasiá-la dentro de nós. E, quando estamos magoados, a nossa imaginação pode levar-nos a lugares sombrios, onde o pior cenário é sempre o escolhido, porque nos prepara (imaginamos nós) para o pior, "protegendo-nos" (imaginamos nós) da dor.


P.S.: A desconstrução destes mitos, não pretende a criação de novas verdades absolutas. Pelo contrário! Somos pessoas, imperfeitas, por natureza. Erramos. Mais vezes do que gostaríamos, somos magoados e magoamos o outro. E, no meio de tudo isto, conseguimos sentir emoções totalmente opostas, no espaço de milissegundos, porque somos inteligentes e ricos na nossa sensibilidade.


Assim, o que quer que seja que nos aconteça tem de ser pe(n)sado, na nossa idiossincrasia e, acima de tudo, escutando a nossa bússola interior. Porque, no final do dia, a vida é nossa. Se quisermos, perdoar, perdoamos e é válido. Se quisermos seguir em frente sem aquela pessoa, seguimos e é válido.






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