Adolescência
- Filipa

- 23 de out.
- 2 min de leitura

Por Carolina Remédios
Adolescência, aquele período nublado e tumultuoso, descrito nos filmes dos anos 90 como o cenário perfeito para os problemas, os conflitos e até a delinquência, acompanhados de cenário musical onde cabem palavras de revolta e tantas vezes imperceptíveis aos ouvidos do adulto. Descrita outrora como uma fase de mera oposição, contestação e até idade do armário, tal seria a incapacidade dos crescidos de lidarem com estes seres misteriosos, que perdem a capacidade de falar, que elevam a voz e o som da banda predileta, que enchem as paredes dos quartos com posters idílicos de alguém que aspiram ser. Esta visão redutora de adultos que outrora já foram adolescentes, mas que numa certa condescendência, camuflada de uma amnésia muitas vezes protetora, escolhem não lembrar, não viajar às memórias que permitiriam reviver os conflitos, as dúvidas, as emoções extremadas e os dilemas que ditavam as tomadas de decisão diária nos corredores da escola ou das ruas onde partilhavam vivências.
Sim, a adolescência pode ser este comboio descarrilado, tantas vezes perdido em caminhos menos inócuos, onde a velocidade não lhe permite sequer olhar à volta, escutar e respirar. É uma cena continua, como recentemente se retratou num filme que deixou tantas famílias assutadas. Porque a adolescência também assusta, assusta os pais que, de repente, perderam a capacidade de entender este novo dialeto que é regido por códigos de moralidade outrora incutidos por si, mas que agora se definem pela opinião do grupo, muitas vezes um grupo que eles não conhecem ou não tem sequer presença física na relação. Mas não é só aos pais que assusta, o adolescente acorda um dia, numa dimensão continua de passagem lenta de tempo, na qual deixa de ser criança, e se apercebe que vê o mundo com outros olhos. Este olhar traz questionamento, traz sede de saber e autonomia, mas também incita a uma profunda necessidade de acolhimento e conexão. Os pais têm aqui a oportunidade perfeita de ser a estação onde o comboiosempre volta, de ser o colo que tantas vezes o jovem quer mas já não sabe pedir. Têm a oportunidade de ter perto de si um ser, cuja atividade cerebral nunca mais na vida terá o mesmo potencial, as mesmas ideias brilhantes, a mesma velocidade, criatividade e intensidade, tal como após o nascimento com todo o poder que o bebé tem para sobreviver neste mundo. Também o adolescente tem de sobreviver, aos pais, à escola, às redes sociais, aos grupos de pares que ora protegem, ora acusam, às modas e tendências, à pressão da sociedade que deposita nele uma enorme responsabilidade bem como um descrédito em tantas decisões do seu futuro.
Ser adolescente é duro, é viver num mundo de adultos, sem as ferramentas para o fazer, mas é igualmente belo, na imensidão de afetos e descobertas que trazem a certeza que se está a evoluir. A família que acompanha, que acolhe, que tenta proteger, que angustia com a distância, tem medo, tem medo que não haja volta. Que aquele filho se perca e não regresse.
O adolescente volta, voltará certamente quando este caminho sem destino definido o retorna aquela que foi sempre a sua casa, a família.





_edited.png)
Comentários