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Comunicação no casal

  • Foto do escritor: Filipa
    Filipa
  • 31 de out.
  • 2 min de leitura

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Por Maria Alarcão




Há dias onde a tarefa mais difícil do amor é continuar a conversar quando o cansaço pesa, ouvir quando o ego grita, escutar quando dói e continuar a estar quando a vontade é fugir para o silêncio.


É por isso que gosto sempre de pensar a comunicação além das palavras. Porque ela é feita de histórias, de silêncios, de gestões, de expectativas, desejos, amores e desamores. O problema raramente é o que se diz. É como se diz, o que se sente e o que não se ouve. 


Numa relação comunicar vai além de expressar o que sinto, é também a coragem de escutar o outro sem querer responder logo, sem transformar cada conversa num campo de argumentação. É criar um lugar onde é seguro existir desacordo. Só que por vezes não queremos. Abrimos a porta ao diálogo com guião fechado, com um final idealizado. Desenganem-se. Comunicar é também saltar para o desconhecido, onde por vezes encontro abraços, outras colo e algumas um espelho que me confronta com as minhas próprias falhas. E porque é que muitas vezes corre mal? Porque fugimos disso..


Acredito que há uma certa humildade na boa comunicação. Porque ela exige que eu, ainda que magoado e com vontade de expressar as minhas necessidades, largue o orgulho para dar palco ao espaço do outro, onde o posso compreender. Talvez o maior desafio seja mesmo esse: continuar a conversar com um pé em mim e um pé no outro. É uma dança frágil entre o medo e a entrega.


E nem sempre o que se diz é o que mais magoa. Por vezes é o que se cala. O olhar que se revira, um “está tudo bem” que não convence, o toque que se adia. A falta de palavras que grita mais do que qualquer discussão. 

E no entanto, continuamos a acreditar que o amor se sustenta sozinho — como se bastasse estar, sem precisar falar.


Com o tempo, aprendi que comunicar não é apenas explicar o que sinto, mas abrir espaço para o outro existir ao meu lado. É aceitar que nem sempre vou ser compreendido de imediato, e que há gestos que dizem mais do que argumentos. É ter a paciência de ouvir mesmo quando dói, e a coragem de falar mesmo quando o medo do conflito me pede silêncio.


Há uma ternura em tentar, mesmo sem saber como. Porque no fundo, comunicar também é uma forma de cuidar. É dizer que “quero continuar a chegar a ti”, mesmo quando o caminho é sinuoso. E talvez o segredo, esteja em continuar a conversar, não para ter razão, mas para não perder a ligação.

O amor, afinal, não morre de falta de paixão. Morre de falta de palavra — e de escuta.Deixa de respirar quando o silêncio deixa de ser pausa e passa a ser distância.


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