Por Catarina Soares
Confiar
Confiar no corpo.
Confiar no processo.
Confiar na vida.
Confiar, que verbo difícil de conjugar.
Muitos de nós não aprendemos a fazê-lo… não na vida real, pelo menos, e por isso aprendemos a tentar controlar.
E ficamos ansiosos com tudo o que nos foge entre os dedos (que é quase tudo).
Eu sei, parece contraditório, mas não controlamos a vida, nem o que nos irá acontecer amanhã, não podemos e por isso é que vivemos com um medo do caraças que tudo corra mal.
Medo que nos deixem, da doença, de ficarmos tristes, do conflito, do insucesso.
Medo de cairmos no desamparo, que a tristeza seja dilacerante, que a dor nos desfaça.
Mas no medo e no controlo, perdemos o hoje e o ontem e tantos outros dias em que, se pensarmos, estávamos bem, estávamos felizes, em que nos sentíamos amados, em que estávamos saudáveis e em paz.
A nossa mente às vezes engana-nos a tentar proteger-nos e rouba-nos o que temos. O agora!
Viver o agora assusta, porque há uma vozinha que nos diz que se o vivermos estamos a ser inconsequentes, pois não nos estamos a preparar para a perda.
Quando vivemos a preparar-nos para o pior, por vezes, nem temos espaço para o melhor. E quando ele chega não acreditamos nele, parece “ser sorte a mais”, alguma “partida da vida”…. Que chatice só termos espaço para o mau entrar, afinal “já estávamos à espera”.
Viver o agora assusta. Mas o agora temos, o agora é nosso e tudo o que podemos é (aprender) a confiar em nós, para podermos vivê-lo.
Aprender a confiar que as coisas boas vão acontecer, pois precisamos delas para sobreviver às outras que são mais azedas e difíceis.
Aprender a dançar ao sabor da vida.
Aprender a deixar fluir.
Talvez a graça da vida esteja mesmo aí.
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