Infertilidade. E os homens?
- Filipa
- 2 de jun.
- 2 min de leitura

Por Catarina Soares
E os homens?
Nestes momentos ninguém se lembra deles.
Falo hoje dos que também têm o sonho de serem pais, os que têm que fazer exames que frequentemente não geram dor física, mas que exigem uma vulnerabilidade e exposição da própria sexualidade, que percebem o seu prazer sexual a ser alvo de análise médica. Os que acompanham as mulheres em todas as consultas, ouvem com atenção a tudo o que é dito, dão-lhe a mão em todos os procedimentos e vivem para dentro toda a dor para permitir que a delas possa sair (afinal é isto que ensinaram que é ser homem).
Os que abraçam as mulheres, sentem os soluços provenientes do choro e a perda de força dos membros, após a escuta de uma má notícia- Para onde será que vai o choro e os soluços dos homens?
E os homens? Que muitas vezes foram (mal) educados acerca do que é ser homem? Que não podem chorar ou espernear, que sentem que é da sua responsabilidade ser a “rocha” como se escuta tantas vezes. Que sofrem em silêncio fingindo não sofrer.
Mas o que é ser homem afinal?
Com certeza que não saberei responder, apenas me resta pensar em voz alta com quem me está a ler. Acredito que ser homem não pode ser sinónimo de sentir menos ou sentir para dentro. Não pode ser sinónimo de algo que não é saudável num ser humano.
É humano (para homens e mulheres) que a dor dói no corpo e na alma. Que a perda dói, que a desesperança entristece e que guardar tudo isto para dentro deverá sufocar mais do que um colete de forças.
Eu não sei o que é ser homem, mas sei que sentem, sei que sofrem, sei que gritam, sei que se zangam, sei que desanimam, que se sentem assustados e até impotentes e que quando este problema lhes bate à porta também sentem que a sua masculinidade é colocada em questão, como se conseguir engravidar a mulher de repente se tornasse um indicador de virilidade ou de desempenho sexual. Será que foi de repente ou foi sempre assim? Não sei. Na verdade na nossa cultura e sociedade quando um casal não tem filhos, tipicamente se pensa que haverá algo de errado com a mulher.
Raramente se pensa que, independentemente de questões biológicas e de saúde, um casal vive este sofrimento a dois.
Não se trata de culpa, nem de responsabilidade.
Trata-se de viver a dor de forma partilhada.
Trata-se de existirem duas pessoas que lutam pelo mesmo fim e que se dedicam a este. E que sofrem juntas. De formas diferentes, mas juntas.

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