Por Leonor Rocha Leite
É preciso uma aldeia para criar uma criança. É mesmo.
Mas será que todas as aldeias são amigas das crianças? E das mães?
Vivemos numa sociedade que gosta muito de dar palpites (não solicitados nem fundamentados) sobre a forma de educar as crianças. E, se em alguns casos, esses palpites são até certeiros e ajudam realmente, em outros tantos (na maioria, até, diria) são verdadeiros "bloqueadores" do instinto materno.
As mães estão biologicamente programadas para atender (bem) às necessidades dos seus filhos. Mas nem sempre isto acontece. Nem sempre o instinto materno é imediato e também não é infalível.
Nem sempre as mães têm as suas próprias necessidades atendidas, o que é, muitas vezes, a causa de não conseguirem, à primeira, atender às necessidades dos seus filhos. Falta de descanso, falta de tempo para si, falta de confiança, falta de apoio emocional e logístico... e tantas outras coisas que são verdadeiros "atentados" ao bem-estar e à saúde mental das mães.
É aqui que entram as "vozes da sociedade". As avós, as tias, as vizinhas, as "especialistas de isto e de aquilo", as "mães perfeitas do Instagram". Todas as pessoas que (com todas as boas intenções do mundo) tentam ajudar, com o seu saber e com a sua verdade, mas que nem sempre percebem o real impacto das suas ações.
Numa mãe descansada, confiante, informada e com uma boa saúde mental, estes palpites (não solicitados) e teorias (muito pouco fundamentadas) sobre bebés, entram e saem "a duzentos". A mãe tem capacidade para filtrar o que ouve e segue com a sua visão sobre o assunto, mantendo-se fiel ao seu instinto e à sua verdade.
Mas o grande problema está nas mães cansadas, desesperadas, inseguras, pouco confiantes e com a sua saúde mental comprometida. Estas estão muito mais permeáveis às opiniões alheias e, porque não têm capacidade para mais, cedem a fazer coisas mesmo contra o seu instinto ou a sua vontade. E depois entram em "batalhas" que não são suas, e muito menos dos seus bebés. Sentem-se fragilizadas, incompetentes e más mães.
Criam-se problemas que poderiam ser evitados se houvesse mais conhecimento e respeito pela maternidade e pela biologia da díade mãe-bebé.
É urgente sensibilizar a sociedade para a individualidade de cada família e para o respeito pela vontade e decisões de cada mãe. É importante que a "aldeia" seja efetivamente uma ajuda, mas que não queira substituir a mãe no seu papel e, muito menos, criticar ou julgar a sua forma de ser mãe. Que perceba o seu lugar naquela família e naquele momento e que contribua para o bem-estar de todos, ao invés de impor a sua verdade e o seu "achismo".
É preciso permitir que o instinto materno floresça naturalmente. É preciso cuidar das mães, para que elas possam cuidar dos seus bebés. É preciso dar espaço às mães para serem as mães que querem ser.
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