Por: Filipa Maló Franco
Mais um dia.
Mais um dia em que grito, em silêncio. As lágrimas já não limpam. Não libertam. Não resolvem. Escorrem, porque sim. Pelos "mais" que gerem a minha vida: Mais um dia. Mais um mês. Mais um ciclo.
E mais. E mais. E eu a apagar-me; sem conseguir fazer diferente. Sinto-me sozinha. Não me compreendem; mas como podem? É da ansiedade; dizem. E como não a ter? Tento não pensar. Talvez se não pensar… E assim penso. E mais; sinto. Mas não aquilo que queria sentir. Já não consigo ouvir todos os truques que ajudaram quem me rodeia; as palavras que (des)confortam, as mezinhas. Não quero ser paciente. Não quero confiar que o Universo sabe o que faz. Só quero que parem. E quero ser mãe.
Está tudo bem; ecoa. Mas como está? Quero respostas; não as tenho. Quero mais. Mais respostas. Mais tempo. Mais opções. Mais sonhos.
E mais. E mais.
E todos os meses a esperança bate à porta em forma de atraso. Um “mais” que me aquece; até que: Um traço, não dois. Era só mais um. Mais um. Porquê? Porquê eu? A mim? A nós? Um "mais" que destrói o que ainda pode, por não aparecer. Afinal a esperança não é a última a morrer.
Sinto-me menos. Menos mulher. Menos companheira. Desejo sentir menos; menos até quase nada. Quero pensar menos. Menos palpites. Menos olhares de pena. Menos culpa. Menos expectativas. Menos comentários. Menos pressão.
E menos. E menos.
Mais um dia, em que sobrevivo. Quantas oportunidades terei? Quantos ciclos me restam? Quantos “mais” aguento? Poderemos ser mais, com menos? Será o caminho guiado por mais sentir, e menos fugir? Será que o limite existe dentro de mim? Encontrarei uma porta de saída, no meio desta escuridão?
Entre todos os mais e os menos que me invadem, uma coisa eu sei: o sofrimento não se vive, nem se supera, sem se falar dele. E é no colo do outro que encontraremos muitas razões, para sermos felizes.
texto inspirado no sofrimento de milhares de mulheres, que se sentem perdidas e sufocadas durante a fase da pré-concepção, com um sonho, que insiste em demorar.
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