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O tempo em que não se tem tempo



Por: Ariana Pereira


Se pensarmos bem, não há um único dia na nossa vida em que a palavra tempo não esteja presente… A pressa e a obrigatoriedade de cumprir horários invadem as nossas manhãs, a necessidade de chegar atempadamente ao nosso local de trabalho, de deixar os filhos na escola antes do horário de entrada, de terminar o dia e chegarmos a casa a tempo de cuidar de quem amamos e organizar o dia seguinte, o tempo foge e com ele fogem as nossas emoções e a nossa capacidade de respirar.


Nesta azáfama da vida, o tempo toma conta do nosso dia, o relógio torna-se o nosso melhor amigo, os alarmes constantes no nosso telemóvel consomem as nossas baterias e o outro deixa de existir… “Não há tempo”, ouvimos nos passeios da rua através das pessoas com quem nos cruzamos, “estou atrasada…” e por vezes surge mesmo um “desculpe, com a pressa não a vi…”.


Como podemos pedir saúde mental, serenidade, se o tempo está constantemente contra nós? Chegamos a um momento da nossa vida em que não há tempo para olhar com calma, para ver as cores do nosso dia (mesmo que esteja cinzento com a chegada do Outono, mas o cinzento também pode ser bonito, sabias?). Não há tempo para respirar, para ver o outro e dizer obrigada ou desculpa… E será que esta falta de tempo vai garantir um amanhã melhor? Será que hoje pararmos cinco minutos para apenas sentir o sol vai tornar-nos piores pais ou piores profissionais?


O tempo tornou-se o nosso inimigo, mas talvez fazermos as pazes com ele seja uma boa solução. Se pensarmos bem, esta ansiedade desmedida já vem da nossa infância, o querer ser crescido para vestir aquela roupa, querer ser crescido para ter mais liberdade… Querer rápido que chegue a sexta-feira quando hoje ainda é segunda-feira, e o já estar ansioso porque é domingo e amanhã já vou trabalhar… No meio disto tudo, onde está aquele momento em que aproveitamos o agora? Em que aproveitamos apenas a nossa existência como seres que estão em constante evolução e que um dia podem pensar: “quem me dera ter tido mais tempo…”. Talvez pudesse ter aproveitado melhor aquele fim de semana se não estivesse constantemente a pensar na reunião da semana seguinte, talvez fosse mais feliz se tivesse ponderado não ir trabalhar naquele dia e ficar apenas a olhar para o meu filho, ou se naquele dia em que perdemos o transporte para o trabalho apenas tivéssemos conseguido esperar pelo próximo sem ficarmos “zangados” com a imprevisibilidade da vida.


Hoje é um dia especial… É quarta-feira, estamos no meio da nossa semana e ainda há dois dias maravilhosos a viver até chegar a sexta-feira (por sinal amanhã até é feriado e a semana tornou-se inevitavelmente mais pequena), porque não aproveitar e apenas viver? Pousar o relógio, desligar o despertador e respirar? O seu corpo agradece, a sua família cria memórias e a sua saúde mental ganha “horas de vida…”.


É possível viver e chegar atrasado, contudo é muito difícil sermos apenas reféns de dois ponteiros!


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