Onde a luz e a sombra se encontram
- Filipa

- 21 de ago.
- 2 min de leitura

Por Maria Alarcão
A parentalidade é uma dança entre luz e sombra, entre peso e ternura.
De um lado, o riso leve, o cheiro da pele do bebé, o instante em que o mundo parece caber no colo. Do outro, o peso invisível das expectativas — as que o mundo impõe e as que nós, sem perceber, semeamos em nós mesmos.
Dizem que é natural saber cuidar. Mas ninguém fala do frio nas mãos quando o choro não cessa, da dúvida que se instala como uma tempestade silenciosa quando pensamos: “Será que estou a fazer bem?”, do nó que surge do medo por ver as relações a mudarem de configuração. A culpa é uma visita persistente e que muitas vezes não avisa. Vem sorrateira, como quem bate à porta com flores, mas entra com pedras para os bolsos da alma.
Cuidar da saúde mental é aprender a respirar antes de afundar. É aceitar pausas, mesmo quando a lista de tarefas grita. É falar sobre o que dói e sobre o que pesa, sem medo de quebrar a imagem do “forte”. É cultivar pequenos rituais que nos lembram de que somos mais do que as nossas obrigações. É não esquecer, mesmo quando os tempos são difíceis, de celebrar conquistas, de encontrar a beleza dos pormenores.
Todos os pais carregam muito mais do que se vê. Entre fraldas e horários, vivem também batalhas internas: o medo de falhar, a sensação de insuficiência, a exaustão do que não se mostra. Cuidar deles é cuidar da família inteira: oferecer tempo para descansar, liberdade para falar, e permissão para duvidar.
Ser pai, ser mãe, é viver num território onde o chão se move: ora firme, ora escorregadio. É aprender que a perfeição não é o destino, mas sim a presença. Que há beleza no improviso e força em admitir que não sabemos todas as respostas. É, no fundo, um caminho feito de peso e leveza. É aprender que não precisamos caminhar sozinhos e que aceitar ajuda não nos diminui, mas nos fortalece.
É saber que, entre noites curtas e dias longos, também existem manhãs luminosas, gargalhadas inesperadas e silêncios cheios de paz — lembrando-nos de que, mesmo no cansaço, a vida cresce e floresce nos nossos braços e que tudo aquilo que se vive não se repete.





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