Por Ariana Pereira e João Rema
Muitas são as dúvidas com as quais nos deparamos quando sofremos. Porque nem sempre o sofrimento tem nome e por mais que pensemos que talvez seja a altura de procurarmos ajuda, através de um olhar a dois, esbarramos com milhares de abordagens, profissionais e áreas, que nos cansam, só de pensar, qual o profissional escolher.
Ainda mais díficil, é sabermos numa primeira instância, se devemos procurar um psicólogo ou psiquiatria, esquecendo muitas vezes que ambos têm a sua função e que podem, certamente, caminhar juntos.
O papel da psicologia
Certamente já se questionou: será que este pensamento tão recorrente é normal? Será que a imensa vontade de chorar e esta tristeza deverá preocupar-me e nunca mais irá passar?
As razões que podem levar cada um de nós à procura de um apoio mais especializado podem ser diversas e não tem obrigatoriamente que ser após um momento de crise ou uma situação que de certa forma nos causou desconforto e muita dor.
Pode simplesmente ser uma procura de orientações e autoconhecimento, um encontro com o EU que muitas vezes fica “adormecido” ou é constantemente atropelado pelos afazeres constantes do nosso dia a dia.
Nem sempre há um motivo específico para pedir ajuda; ou por vezes existe, mas encontra-se tão emaranhado e emaranhado que se torna invisível ao nosso coração. Ou então, temos tantos motivos ou situações que nos deixam desconfortáveis e ainda, a necessidade de sermos escutados e de no meio do turbilhão e relações que vivemos, ter alguém num lugar neutro que nos pode ouvir e dar a mão na escuridão parece ter tomado conta dos nossos dias. Ou não ter algo evidente, mas uma necessidade de nos conhecermos melhor e de uma perspectiva mais alargada sobre nós mesmos. Noutros casos, também é comum que nos possamos sentir "sem saida”, sem coragem para seguir em frente e ultrapassar aquele momento em específico, ter dificuldade em vivenciar as mudanças, assim como compreender os sentimentos de vazio que tantas vezes se apoderam de nós.
E quando se questiona: mas a consulta de psicologia é para mim?A verdade é que as situações não são todas iguais, mas o que sabemos, é que à semelhança de ser importante olharmos e cuidarmos da nossa saúde física, também a nossa saúde mental deve ser escutada, e não apenas em situação de crise e de desespero. Contudo, também é importante enaltecer que existem alguns indicadores que devem ser alertas e aí sim devemos ponderar pedir ajuda mais rapidamente, como: a sensação constante de sofrimento e angústia de que algo está a interferir com o nosso bem estar e a nossa relação com o outro e connosco próprios; dores físicas que ja não são explicadas convencionalmente; privação de sono e de apetite; medos e fobias, com explicação ou sem ela; sentimentos ou pensamentos de autodestruição e marcadas perturbações de humor ou de personalidade.
É importante conversar com alguém sobre tudo o que sentimos. Procurar ajuda psicológica atempadamente pode evitar situações mais delicadas de futuro, pois intervir numa fase inicial poderá melhorar toda uma vida, reconstruir um passado e ter um futuro sereno, com nuvens cinzentas que surgirão inevitavelmente, mas que também passam e rapidamente um céu azul brilhará entretanto, com a certeza de que a felicidade não mora na ausência de desafios e de momentos menos bons, mas na nossa capacidade de olhar as pequenas coisas, de escutarmos as nossas emoções, abraçarmos a impermanência e aceitarmos que a vida é um conjunto de histórias tão diferentes mas necessárias, ao crescimento.
E o papel da psiquiatria?
Tal como as consultas de psicologia, também as consultas de psiquiatria desempenham um papel crucial no tratamento das doenças psiquiátricas, mas também na manutenção da saúde mental e do bem-estar psíquicos. Estas consultas têm como objetivo:
Identificar e Diagnosticar Problemas de Saúde Mental: Os psiquiatras são treinados para reconhecer uma vasta gama de perturbações de saúde mental e fornecer diagnósticos;
Desenvolver Planos de Tratamento Eficazes: Tratamentos individualizados, incluindo psicoterapia, medicação ou uma combinação de ambos, podem ser prescritos para tratar os sintomas, recuperar a funcionalidade e melhorar a qualidade de vida;
Monitorizar o Progresso: As consultas regulares permitem ajustes nos planos de tratamento, garantindo um cuidado mais eficaz;
Fornecer Apoio e Educação: Os psiquiatras oferecem orientação, recursos e educação para ajudar os pacientes e suas famílias a entender e gerir as condições de saúde mental.
Quando devo marcar consulta de Psiquiatria?
Neste sentido, importa reconhecer que sinais de alerta que devem motivar a marcação de uma consulta de Psiquiatria. De seguida, apresentam-se alguns exemplos relevantes:
Tristeza, Desânimo ou Perda de Interesse Persistentes
Sentir-se triste ou em baixo a maior parte do tempo por mais de duas semanas;
Perda de interesse em atividades que antes eram prazerosas;
Sentir-se sem esperança, sem valor ou com culpa excessiva;
Evitar amigos, família e atividades sociais;
Preferir o isolamento em vez da interação com os outros.
Oscilações Extremas de Humor
Experimentar altos (mania) e baixos (depressão) marcados que interferem na vida diária;
Mudanças súbitas nos níveis de energia, padrões de sono, padrões alimentares e/ou comportamento;
Alterações de humor que oscilam entre semanas/meses, às vezes mais evidentes para os familiares e amigos;
Ansiedade e Preocupação Excessiva
Sentir-se constantemente ansioso, nervoso ou inquieto.
Ter ataques de pânico ou medo intenso sem razão aparente.
Dificuldade em controlar as preocupações, levando a sintomas físicos como tremor, suor e/ou palpitações.
Sentir-se sobrecarregado pelas responsabilidades diárias.
Dificuldade em gerir o stress ou lidar com tarefas de rotina.
Mudanças nos Padrões de Sono
Insónia ou dificuldade em adormecer e/ou manter o sono.
Dormir demasiado ou sentir-se cansado apesar de um descanso adequado.
Pesadelos frequentes, dificuldades com as práticas de higiene de sono;
Dificuldade em Concentrar-se e Problemas de Memória
Dificuldade em focar-se nas tarefas ou em tomar decisões.
Lapsos de memória ou sensação frequente de confusão.
Distratibilidade muito marcada, por vezes associada a muita impulsividade
Sintomas Obsessivos
Pensamentos intrusivos, repetitivos e causadores de tensão e ansiedade;Sentir a necessidade de fazer determinada ação (ex: verificação, contagem, limpezas) para que estes pensamentos desapareçam;
Pensamentos de Autoagressão ou Suicídio
Ter pensamentos ou comportamentos de autoagressão ou de ferir os outros;
Pensamentos recorrentes sobre a morte e/ou o suicídio;
Fazer planos ou tentar suicídio.
Sintomas Psicóticos
Acreditar em coisas que não têm base e não são explicados pela realidade (delírios).
Ouvir, ver ou sentir coisas que os outros não percebem (alucinações).
Sentir-se excessivamente desconfiado dos outros.
O abuso de substâncias, como o aumento do uso de álcool ou drogas para lidar com as emoções ou o stress; ou o desenvolvimento de uma dependência de substâncias para funcionar diariamente também deve levar à marcação de consulta.
Determinadas alturas de vida podem ser períodos de maior vulnerabilidade para o aparecimento de sintomas psiquiátricos, como a gravidez ou o período do pós-parto na mulher. Outros aspetos como o envelhecimento ou eventos de vida muito marcantes também podem condicionar o aparecimento de sintomas ou modificações no bem-estar psíquico e devem ser discutidos em consulta.
Em suma, reconhecer estes sinais de alerta e procurar ajuda de um psiquiatra pode levar a uma intervenção precoce, tratamento adequado e melhores resultados na saúde mental. Se você ou alguém que conhece está a experienciar algum destes sintomas, considere marcar uma consulta de psiquiatria para discutir preocupações e explorar possíveis tratamentos.
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