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Quando o corpo e a mente permanecem em alerta

  • Foto do escritor: Filipa
    Filipa
  • 6 de nov.
  • 3 min de leitura

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Por Rita Sousa




Nem todos os traumas deixam marcas visíveis, alguns instalam-se de forma silenciosa, nas emoções, no corpo e na forma como vemos o mundo. O stress pós-traumático (PTSD) e o trauma complexo (CPTSD) são condições que surgem quando o sistema nervoso fica preso em estados de medo, impotência ou ameaça, mesmo depois de o perigo já ter passado. 


O que é o stress pós-traumático? 

A Perturbação de Stress Pós-Traumático ocorre após uma situação em que a pessoa sentiu que a sua vida ou integridade estavam em risco, como acidentes, abusos, catástrofes, violência ou perdas súbitas. 

Mesmo muito tempo depois do evento, o corpo e o cérebro podem continuar a reagir como se o trauma ainda estivesse a acontecer. 


Entre os sintomas mais comuns estão: 

  • Reviver o trauma (memórias intrusivas, pesadelos ou flashbacks); 

  • Evitamento de lugares, pessoas ou conversas que recordam o evento; 

  • Hipervigilância (sensação de estar constantemente em alerta, sob ameaça); 

  • Alterações emocionais como irritabilidade, insónia, medo intenso ou apatia. 


O cérebro, em vez de integrar o que aconteceu como um evento do passado, mantém o sistema de alarme permanentemente ligado e é por isso que muitas vezes o trauma “volta” através de sensações, imagens ou reações corporais. 


O que é o trauma complexo? 

O trauma complexo resulta não de um único acontecimento, mas de experiências prolongadas de abuso, negligência ou instabilidade emocional, geralmente na infância. Pode envolver crescer num ambiente onde não havia segurança, empatia ou previsibilidade, por exemplo, com pais emocionalmente indisponíveis, críticos ou violentos. 

Estas vivências repetidas afetam o desenvolvimento emocional e a forma como a pessoa se vê e se relaciona com os outros. 


Os sintomas vão além dos do stress pós-traumático e podem incluir: 

  • Vergonha e culpa crónicas

  • Dificuldade em confiar ou manter relações estáveis

  • Sensação persistente de vazio ou desvalorização

  • Desconexão emocional ou dissociação

  • Autocrítica severa e medo de rejeição


O trauma complexo não é apenas uma “memória difícil”, é um modo de sobrevivência que se instalou. A pessoa aprende, muitas vezes inconscientemente, a viver em estado de alerta, a controlar emoções ou a anular partes de si para se proteger. 

O trauma pode moldar profundamente a vida adulta: influencia as escolhas, os relacionamentos, a autoconfiança e a capacidade de sentir prazer ou segurança. Muitos adultos com história de trauma complexo descrevem uma luta interna constante entre querer aproximar-se e ter medo de se magoar, ou uma tendência para o controlo, a hipervigilância e o perfeccionismo como formas de evitar o sofrimento. 


Apesar de ser um quadro clínico complexo, é possível curar o trauma. A terapia especializada para estes quadros clínicos, passam pela psicoterapia focada no trauma, o EMDR, a terapia somática ou abordagens integrativas, ajudam o cérebro a reprocessar memórias traumáticas e restaurar o sentido de segurança interna. O objetivo não é apagar o que aconteceu, mas permitir que o passado deixe de comandar o presente. 

A recuperação passa também por reconstruir o vínculo com o corpo, aprender a reconhecer sinais de ameaça ou segurança, e desenvolver novas formas de estar em relação — consigo e com os outros. 

Assim, o trauma não é sinal de fraqueza, mas uma resposta natural a algo que foi intenso e demasiado. 

Com apoio adequado, é possível reorganizar a história interna e reencontrar um estado de equilíbrio, confiança e presença no agora.  



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