Por Débora Paixão
Ser pai ou mãe de um adolescente não é fácil mas ser adolescente também não.
Tenho-me apercebido, na prática clínica, que em algum momento nós, os adultos,
esquecemos o que é ser adolescente, o que fomos enquanto adolescentes.
Esquecemos que também nós quisemos estar mais "fechados no quarto", que quisemos faltar a uma ou outra aula, sair da escola ou quebrar um castigo.
Esquecemos que, por vezes, os nossos pais eram os piores do mundo porque não
nos deixavam sair à noite ou porque nos obrigavam a ir aos intermináveis eventos
de família.
Também nos esquecemos que tivemos um amor assolapado por alguém
e que o fim dessa relação foi devastador, que pensámos ter perdido o amor da
nossa vida e que, os adultos à nossa volta, não deram importância porque "iam haver outros amores".
Aquilo que sei é que, uns mais outros menos, todos passámos por uma fase
onde as emoções estão à flor da pele, as hormonas estão ao rubro e tudo o que
sentimos é que os adultos não nos compreendiam. Não compreendiam que, para nós, aquela saída à noite era mesmo muito importante, que os almoços de família eram aborrecidos e que aquele amor, para nós e naquele momento, era mesmo para a vida toda.
Aquela raiva, frustração ou tristeza que sentíamos, aos olhos dos adultos, não era nada, era um exagero e havia de passar.
Nós todos, novamente - uns mais outros menos, sentimos isto e, ainda assim,
todos nós, enquanto adultos, nos esquecemos e tendemos a repetir estas
atitudes dos adultos, que nos magoavam. O que gostava que pensássemos é que, enquanto adultos, não podemos esquecer que essa raiva, frustração e tristeza que parecem "exagerados" na verdade não o são. Tudo é verdadeiro e muito sentido porque, na adolescência, tudo têm um peso diferente. Validar e acolher estas emoções é fundamental para a relação entre pais-adolescente e é fundamental para o desenvolvimento do próprio adolescente.
Num mundo onde sabemos que não só a depressão, ansiedade e perturbações alimentares como também o suicídio aumentou exponencialmente na população jovem, acho urgente repensarmos a forma como olhamos e lidamos com os nossos adolescentes.
Bem sei que esta fase também é muito exigente para os pais, que se preocupam, que querem sempre o melhor para os filhos e que eles estejam bem. É por isso urgente termos um olhar atento mas não invasivo, permitir e potenciar a autonomia mas com limites, permitir a privacidade do seu espaço físico e mental mas nunca deixando ao abandono.
O adolescente, que saudavelmente, está no seu quarto, na sua privacidade e intimidade, quem é que vai encontrar do outro lado? Os pais que dizem "estamos aqui para ti, se precisares de nós" ou os pais que dizem "estás sempre fechado no quarto, já não queres saber de nós"?
É importante ter em mente que será a nossa valorização, aceitação e compreensão que farão do adolescente um adolescente e- adulto- seguro.
Talvez pensar na nossa adolescência, em quem nós fomos nessa fase, nos ajude enquanto pais a repensar a forma como respondemos àquela questão.
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