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Dar voz ao silêncio: a importância da relação terapêutica

  • Foto do escritor: Filipa
    Filipa
  • há 37 minutos
  • 2 min de leitura

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Por Diana Cerqueira



Há dores que permanecem em silêncio. Calam-se dentro de nós, como se nunca tivessem acontecido, mas que continuam a viver no corpo e na memória. Surgem de formas inesperadas: na angústia, em relações que se repetem ou em decisões que não conseguimos explicar. É como se houvesse um território silencioso dentro de cada um, que pede para ser escutado mas não encontra voz.


A relação terapêutica é esse espaço onde o silêncio ganha lugar. É mais do que uma conversa: é um encontro. Um espaço protegido onde se pode dizer aquilo que nunca foi dito, ou simplesmente sentir aquilo que durante tanto tempo foi evitado. Aqui não há pressa. Não há a necessidade de agradar ou de se esconder. Há apenas a presença atenta de alguém que acolhe cada palavra, cada silêncio, cada gesto, com cuidado e sem julgamento.


No início, pode parecer difícil confiar. Abrir-se diante do outro é sempre um risco. Mas, pouco a pouco, a confiança vai crescendo – não por obrigação, mas porque a experiência de ser verdadeiramente escutado desperta algo reparador. É nesse movimento que começa a nascer um vínculo: uma relação diferente de tantas outras, onde a vulnerabilidade deixa de ser fraqueza e se transforma em força.


A terapia não apaga o passado, mas permite revisitá-lo com outro olhar. Aquilo que antes era vivido como ferida pode ser compreendido, elaborado e integrado na própria história. O que parecia incompreensível ganha sentido; o que estava escondido encontra palavras; e o que parecia impossível de suportar pode ser partilhado. O passado continua a existir, mas já não aprisiona da mesma forma.


O terapeuta escuta para além do que é dito. Escuta o que se revela nas pausas, nos silêncios carregados, nas contradições e até nos gestos mais pequenos. Essa escuta subtil abre caminho para que o inconsciente se manifeste e para que novas verdades possam emergir. O que estava escondido começa a ser reconhecido, e o que estava fragmentado encontra espaço para se organizar.


A relação terapêutica é, assim, um espaço de transformação. Não porque oferece respostas prontas, mas porque permite descobrir dentro de si novas formas de viver, de sentir e de

se relacionar. É um caminho onde se aprende a olhar para dentro sem medo, a reconhecer o que dói e, ao mesmo tempo, a descobrir recursos que estavam adormecidos.


No fundo, é sempre um encontro profundamente humano. Um espaço onde alguém se sente visto e ouvido na sua totalidade, sem máscaras nem exigências. Onde o silêncio encontra voz, a dor encontra sentido e a vida pode ganhar novos significados. É um convite a estar consigo mesmo de forma mais verdadeira – e, a partir daí, a construir relações mais livres e mais autênticas com os outros.


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