Entre a procura de respostas e o risco de rótulos: o boom da PHDA em adultos
- Filipa
- 25 de set.
- 2 min de leitura

Por Tomás Lopes
Nos últimos anos, tem-se tornado cada vez mais comum ver pessoas a procurar um diagnóstico de PHDA (Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção), especialmente na idade adulta.
Com o crescimento das redes sociais e com o acesso facilitado à informação, as pessoas começaram a reconhecer em si padrões de comportamento que se encaixam nas descrições populares da PHDA, como desorganização, dificuldade de concentração, impulsividade e procrastinação.
Contudo, por trás deste fenómeno, parece existir um movimento mais subtil e emocional, como procura de um diagnóstico não apenas para tratar uma condição real, mas para encontrar uma explicação para falhas, dificuldades sentidas ou traços de personalidade que de alguma forma podem ter trazido dor, desconforto ou vergonha. O diagnóstico, nesse sentido, surge como uma espécie de desculpa, uma forma de dizer: “Eu não sou preguiçoso, desorganizado ou irresponsável — há uma razão patológica para isto.”
Esta busca por validação não é fingida ou forçada — é muitas vezes legítima. Por desejo de encontrar uma estrutura que explique aquilo que as faz sentir diferentes. Um diagnóstico pode funcionar como um reenquadramento da própria história, pode até ser vivido como um ponto de viragem da culpa para compreensão.
No entanto, há uma questão importante a considerar, que é a PHDA ser uma perturbação do neurodesenvolvimento, ou seja, tende a manifestar-se desde a infância. Por isso, pode parecer contraditório que tantas pessoas apenas venham a receber um diagnóstico na vida adulta, sem nunca terem apresentado sinais claros durante a infância — altura em que os sintomas costumam ser mais evidentes. Isso levanta dúvidas legítimas como: será mesmo PHDA, ou será que os sintomas observados agora são consequência de outras condições emocionais ou contextos de vida exigentes?
Procurar explicações para as nossas falhas é legítimo, mas é igualmente importante reconhecer que nem tudo precisa de um nome clínico para ser compreendido ou trabalhado. Em muitos casos, os sintomas descritos como “défice de atenção” ou “dificuldade em organizar-se” podem estar mais ligados a ansiedade, cansaço, burnout, depressão, excesso de estímulos ou expectativas irrealistas do que a uma perturbação neurológica real. A fronteira entre comportamentos, emoções e neurobiologia nem sempre é clara — e por isso é fundamental que os diagnósticos sejam feitos com critério, sensibilidade e fiabilidade.

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