
Por Mónica Torres
"Sinto-me triste num momento tão feliz. Emociono-me sempre que olho para ele. Quando vejo estes bebés, que nascem em cenários de guerra, choro. Não sei se era bem isto que eu queria. Serei capaz de amá-lo? Serei boa mãe? Tenho medo... E choro."
Estas são algumas das frases que mais ouço das mães na minha prática clínica. Serão as mudanças hormonais, que acompanham a gravidez e o pós-parto, as responsáveis por este turbilhão de ideias?
Sabemos que toda a gravidez e pós-parto se fazem acompanhar de mudanças hormonais que têm a vantagem de estimular o comportamento materno e a ligação emocional da mãe ao bebé mas que, simultaneamente, são um elemento a considerar na etiologia das perturbações psicopatológicas neste período, aumentando a vulnerabilidade da mulher para o desequilíbrio emocional. Sabemos também que a incidência de perturbações psicopatológicas é mais elevada nos momentos que se relacionam com a transição para a parentalidade do que em qualquer outro momento da vida da mulher.
No entanto, nem só de hormonas vive a maternidade (e a paternidade). Olhamos para este período de tão profunda transformação como uma fase crítica, em que existe seguramente uma mudança - psicológica, hormonal, física e social. A adaptação a esta nova realidade pode tomar dois rumos - resultar no desenvolvimento e aquisição de novas competências ou potenciar o desiquilíbrio psicológico.
Assim, as perturbações psicológicas no puerpério surgem como resposta emocional à situação de crise. O tão falado blues pós-parto, que se verifica em 50 a 80% das puérperas, tem inicio no terceiro ou quarto dia após o nascimento e permanece, no máximo, durante 15 dias. Revela-se por um aumento da reatividade emocional por parte da mãe que se carateriza por choro fácil, irritação, humor depressivo, ansiedade, perturbações no sono e perda de apetite. É considerado um fenómeno normal e adaptativo que permite a aproximação entre a mãe e o bebé e que acontece devido às mudanças hormonais e fatores psicológicos. Já a depressão pós-parto, que atinge 10 a 20% das mulheres, manifesta-se num quadro clínico mais severo e agudo e requer acompanhamento psicológico e psiquiátrico, sendo considerado o uso de medicação. Inicia-se por volta do segundo ou terceiro mês após o parto e apresenta sintomas semelhantes aos do blues pós-parto mas de maior intensidade, assemelhando-se a uma depressão noutra fase da vida da mulher.
O tema central da depressão pós-parto é o papel materno e o bebé, evidenciado pela baixa autoestima da mulher/mãe e elevada culpabilidade no desempenho das funções maternas. Por sua vez, a psicose puerperal, que incide apenas em 0,1 a 0,3% das mães, não tem relação com fatores psicossociais, mas sim com as circunstâncias biológicas (alterações hormonais) em interação com a vulnerabilidade psicopatológica. Acontece nos primeiros dias de puerpério e é uma psicose transitória, dura entre cinco a doze meses. Neste caso verifica-se uma emergência repentina e, de certo modo, inesperada de sintomatologia psicótica, nomeadamente uma alteração muito significativa no contacto da mulher com a realidade e com o bebé. Sintomas como confusão, insónia, desorientação, agitação, comportamentos bizarros e alucinações podem estar presentes e é necessária intervenção psicológica e psiquiátrica logo que diagnosticada.
Na verdade, nem sempre é fácil perceber (e pode até existir alguma confusão!) sobre o que são alterações "normais" de um pós-parto e quando se trata realmente de uma depressão. Sabemos que ser mãe é um papel intenso e exigente, que implica uma série de adaptações num dia-a-dia que era até então "fácil". Existe uma acumulação de papeis e funções que, de uma forma mais ou menos saudável, podem transportar a mulher para níveis de ansiedade ainda não experimentados. E com a maternidade chegam também novas formas de viver as emoções e sentimentos desconhecidos. Então, para fazer esta distinção é importante olhar para a gravidade do quadro e o que ele tem de incapacitante e para a forma como afeta a funcionalidade da mãe, pondo em perigo o seu bem-estar e o do bebé.
O apoio especializado (psicológico e/ou psiquiátrico) durante a gravidez aumenta a tolerância às ansiedades e ambivalências no pós-parto. O tornar-se mãe pode reativar conflitos inconscientes do seu papel enquanto filha e a psicoterapia na gravidez proporciona uma oportunidade de quebrar padrões transgeracionais. A intervenção tem como objetivo ajudar a mulher a desenvolver competências para a resolução das tarefas desenvolvimentais da maternidade ainda não resolvidas, facilitar a aceitação e o pedido de ajuda à rede de apoio, desmistificar a ideia de que ser mãe é ser "super-mulher" e, não menos importante, incentivar a recém-mãe a investir nela própria.
Quero com isto sensibilizar as mães (e futuras mães) para a procura de ajuda, por elas e para elas, pelo bebé e pela família. A depressão na gravidez é um fator preditor da depressão pós-parto. E mães deprimidas estão menos disponíveis para a relação com o bebé, proporcionando-lhe uma interação e cuidados inadequados e, consequentemente, uma vinculação insegura. Lembre-se! As ansiedades são menores quando partilhadas e o lugar da maternidade pode ser mais bonito sempre que a mãe se sente suficiente e capaz junto do seu bebé.

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