Por Catarina Soares
Saber quem somos parece-me ser um dos conhecimentos mais importantes e basilares na nossa existência e passagem pela vida.
Mas afinal…
Quando começamos a saber quem somos?
Quando começamos a definir-nos enquanto pessoa?
Como construímos ao longo da vida um senso de identidade?
Estas são algumas questões que se associam ao título do presente texto, que são questões frequentemente trabalhadas em contexto psicoterapêutico, uma vez que não podemos ter saúde mental sem auto conhecimento.
Entende-se como auto-conhecimento a capacidade de saber o que gostamos, o que desejamos, quais são os nossos limites, como nos sentimos no mundo, nas relações que temos e connosco próprios, o que consideramos mais ou menos importante na construção da nossa vida, que características sentimos que temos e não temos, que competências dominamos e não dominamos.
O processo de construção de identidade inicia-se a partir de movimentos de identificação/ desidentificação, e este processo inicia-se muito precocemente no nosso desenvolvimento, mais concretamente na infância. A criança quando tratada com respeito, amor e segurança, irá explorar o mundo e conhece-lo, primeiro a partir da relação com os pais, depois diretamente com o exterior. Irá demonstrar interesse ou desinteresse pelas várias áreas, irá aproximar-se e afastar-se do que está a conhecer e, caberá aos adultos que a rodeiam, especialmente à sua figura de referência, auxilia-la nesta descoberta mediante a atribuição de legendas, que permitem criar o que será a base da imagem de si e consequentemente do seu amor próprio.
Saber que gosta mais de vermelho do que de azul, que é carinhosa e que é boa a andar de patins ou a nadar, ou ser descrita como desastrada, mazinha, ou difícil, são conceitos que, apesar de frequentemente serem ditos sem intenção de magoar e muitas vezes até com falta de conhecimento, quando repetidos, ficam muito bem guardados dentro de nós e que crescemos a tentar comprovar que estão certos.
O risco de não sabermos quem somos é sermos definidos pelo que não somos. O risco de não sermos devidamente legendados quando precisamos é termos uma imagem distorcida de nós, que nos impede muitas vezes de alcançar o nosso maior potencial e de viver em paz connosco próprios.
A psicoterapia é um lugar onde muitos de nós se conhece verdadeiramente pela primeira vez. Um lugar de escuta e onde temos uma nova oportunidade de sermos vistos e entendidos pelo que somos e que muitas vezes não está visível.
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