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Um sonho que insiste em demorar-se

Por: Mónica Torres



Será desta? Nunca sonhei com isto. Pelo menos desta forma. E deste jeito. Sinto um nó na garganta que já não me permite chorar. Nem gritar. Queria gritar de cada vez que percebo que ainda não vais chegar. Se é que algum dia chegarás. Olho à minha volta e vejo mães. Felizes. Com os seus bebés. Alguns deles ainda dentro da barriga. Como tu não estás. Volto a querer gritar.


Sinto que te perdi. Perdi o sonho de algum dia te ter. Sinto-me sozinha. Triste. Angustiada. Desabafo em silêncio. Porque acho que ninguém me consegue compreender. Culpam a ansiedade. Eu culpo-me a mim. Por a ter. Mas como a negar? Dizem-me para não pensar. Para confiar no destino. Que, no tempo certo, tu chegarás. Mas que tempo é esse? Um tempo que insiste em demorar-se. Quanto mais não te penso, mais existes. No meu sonho, apenas.


A teimosia faz-me não desistir. Experimento todos os conselhos que me dão. Aqueles que, com esta e com aquela, resultaram. Que tornaram o sonho realidade. Mas não me deixo iludir. Tento aceitar. Seguir com os pés no chão. No meu silêncio. Na minha culpa. Essa que aumenta, de cada vez que me perguntam se já cá estás. Mais um mês, não. Volto a querer gritar. Comigo. Para mim.


Mas há alguém que te sente, tal como eu. O teu pai. És tão nosso. Dos nossos sonhos. Por vezes, coexistimos no silêncio. Outras, imaginamos-te juntos. Porque a dor é menor quando partilhada. Tens um espaço enorme, aqui, à tua espera. Esse que já é teu. O sofrimento está presente. Não só em mim. Em nós. Cada um escolhe vivê-lo à sua maneira. Mas uma coisa é certa! Ele torna-se menor, de cada vez que falamos nele. De ti.

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